quinta-feira, 26 de junho de 2008

Filosofia: Ética de Epicuro

A ÉTICA DE EPICURO

Epicurismo é uma corrente filosófica originada por Epicuro (341 a 270 a.C). Esta filosofia não tem história e o tempo não fez nenhuma modificação em relação aos pensamentos e as idéias originais de Epicuro. Assim, nenhum epicurista foi um filósofo original.


Epicuro foi um dos autores que mais escreveu na antiguidade, porém, desprezava a glória literária e não apurava seu estilo. Não dava grande importância aos estudos das ciências naturais e nem as valorizava, a não ser quando trazem à moral um auxilio necessário. Na filosofia Epicuro distingue três partes: a canônica, esta que é fundamento da ciência e nos ajuda a distinguir o verdadeiro do falso; a física que trata da geração da corrupção e da natureza das coisas; e a ética a qual trataremos neste resumo, que nos ensina o que devemos procurar e evitar para conduzir a uma vida feliz.


A doutrina de Epicuro prega que a vida deve ser a única preocupação e que a filosofia era uma atividade que estabelece por meio de raciocínios e discussões uma vida feliz. Epicuro dizia que deveria viver filosofando em atitudes e não apenas em palavras.


Segundo o Epicurismo o prazer é o princípio e o fim da vida feliz. A sensação é de onde se origina o sensualismo e é a única experiência capaz de por o homem em relação com o real. O prazer para Epicuro não significa apenas a ausência de dor e da perturbação da alma, o prazer é positivo como, por exemplo, o prazer da carne, da visão, da audição, do gosto, etc. O prazer é o bem supremo devido ao fato dos seres vivos procurarem-no de forma natural e evitarem a dor.


“Chamamos ao prazer princípio e fim da vida feliz. Com efeito, sabemos que é o primeiro bem, o bem inato, e que dele derivamos toda a escolha ou recusa e chegamos a ele valorizando todo bem com o critério do efeito que nos produz. (...) Convém então valorizar as coisas de acordo com a medida e o critério dos benefícios e dos prejuízos, pois que, segundo as ocasiões, o bem nos produz o mal e, em troca, o mal, o bem.” (1)



1) E. Joyal, et al. O epicurismo. P. 57.


No epicurismo é mister dominar os prazeres e não se deixar por eles dominar, ter a faculdade de gozar e não a necessidade de gozar. A filosofia toda está nesta função prática. Este prazer imediato deveria ficar sempre essencialmente sensível. Epicuro visava os prazeres estéticos e intelectuais, como os mais altos prazeres.


Epicuro faz uma hierarquia dos prazeres:


“Entre os desejos, uns são naturais e necessários, outros naturais e não necessários e outros nem naturais nem necessários, mas são o efeito de opiniões vãs.” (2)


Os desejos naturais e necessários são os desejos pela alimentação e pela bebida. Estas são necessidades essenciais para a sobrevivência humana. Epicuro considerava que quem vive conforme a natureza era rico e quem vive conforme à opinião era pobre e não sabia aproveitar. Como é o fato hoje de pessoas deixarem de se alimentar para assim não engordarem a fim de manterem um corpo de acordo com os padrões ideais da sociedade atual.


“Então quem obedece à natureza e não às vãs opiniões, a si próprio se basta em todos os casos. Com efeito, para que é suficiente por natureza toda a aquisição é riqueza (...)” (3)


Os desejos naturais e não necessários trata-se da gula. O comer e o beber sem desejar:


“Aqueles desejos que não trazem dor se não são satisfeitos não são necessários; o seu impulso pode ser facilmente posto de parte, quando é difícil obter a sua satisfação ou parecem trazer consigo algum prejuízo.” (4)


Os desejos não naturais e não necessários trata-se dos desejos de insatisfação, de não se contentar com o que tem, como a ganância, a aspiração pelo poder. Segundo Epicuro, estes desejos não levam a felicidade proposta. Apenas gera desejo de insatisfação e descontentamento e uma busca incessante por novas coisas.

2) Id. p. 58

3 e 4) Id. p. 59

O Epicurismo também fala que não se deve preocupar com o futuro. Pois são preocupações que podem trazer angústias e esta não é um fator que leva a uma vida feliz, conforme a filosofia epicurista.


“Quem menos sente a necessidade do amanhã mais alegremente se prepara para o amanhã. (...) A vida do insensato é ingrata, encontra-se em constante agitação e está sempre dirigida para o futuro.” (5)


Da mesma forma o Epicurismo fala das preocupações com o passado:


“Cura as desgraças com a agradecida memória do bem perdido e com a convicção de que é impossível fazer que não exista aquilo que já aconteceu.” (6)


Epicuro fala da prudência como uma virtude inseparável para se ter uma vida feliz. A prudência ensina que é impossível viver sem sabedoria, beleza e justiça. Epicuro também diz que o sábio não deve participar da vida pública (política) e que as leis existem para os sábios para defendê-los:


“As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam, mas para impedir que recebam injustiça.”(7)


Em relação a amizade surge da necessidade do que é útil. No entanto, deve-se buscar um meio termo, para não ser apenas amigo por interesse:


“Não é amigo quem sempre busca a utilidade, nem quem jamais a relaciona com a amizade, porque um trafica para conseguir a recompensa pelo benefício e o outro destrói a confiada esperança para o futuro. (...) No que se refere à amizade, não há que apreciar nem os que estão sempre dispostos nem os que recuam, pois que por ela se devem confrontar os perigos.” (8)


O epicurismo trouxe uma nova maneira de pensar, aparecendo como um antecessor do

positivismo moderno, estudando a natureza e propondo abrir os olhos dos homens em relação

5 e 6) Id. p. 60

7 e 8) Id. p. 62

aos mitos, superstições e preconceitos enraizados.


Epicuro em sua filosofia tentou dar ao homem uma medida de si mesmo e das coisas que não fossem provenientes de domínio externo.




REFERÊNCIAS:


E. JOYAU e G. RIBBECK. O Epicurismo contendo uma “Antologia de textos de Epicuro”. Editora Ediouro, 1955


BRUN, Jean. O Epicurismo. Lisboa: edições 70, 1959.

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